Transcendendo: poucos cuidados com travestis e mulheres trans no Brasil
Por meio de visitas anuais, foram coletados dados sobre aspectos sociodemográficos,
comportamentais, transição de gênero, procedimentos de afirmação, uso de hormônios,
discriminação, violência, saúde clínica e mental, prevenção do HIV e cuidados (para aquelas infectadas pelo HIV), além da realização de exames físicos, laboratoriais e medidas antropométricas. “A informação de base do Transcendendo reforça o cenário de marginalização e privação em torno das travestis e mulheres trans. A maioria das participantes tinha baixa renda (62% viviam com menos de US$ 10,00/dia), demonstrava um envolvimento muito alto no trabalho sexual (78,6%) e relatava aumento na ocorrência de violência sexual (46,3%) e física (54%)”, informa Ana Cristina.
Outros resultados do estudo mostram que a profilaxia pré-exposição(PrEP) foi utilizada por 18,8% das travestis e mulheres trans não infectadas pelo HIV e que o rastreamento positivo para depressão (57,8%) e uso problemático de tabaco (56,6%), cannabis (28,9%), cocaína (23,8%) e álcool (21,5%) foi elevado. Além disso, quase todas as participantes (94,8%) relataram o uso de hormônios em algum momento, principalmente sem supervisão médica (78,7%). Na avaliação da co-autora Laylla Monteiro, “os resultados descrevem um contexto de exclusão vivenciado por travestis e mulheres trans, expondo vulnerabilidades dessa população em um país de renda média, com pouco acesso a cuidados transespecíficos, prevenção e assistência ao HIV e atenção à saúde mental”.
Para Ana Cristina, abordar as experiências e necessidades da população trans pode ajudar no desenvolvimento de estratégias para diminuir o estigma, melhorar o ambiente dos cuidados de saúde, orientar futuras pesquisas sobre morbidades, uso de hormônios, uso de substâncias e intervenções transespecíficas para apoiar as recomendações relacionadas à saúde. “Em última análise, contribui para diminuir as lacunas em relação à saúde da população trans e reforça que os cuidados trans não podem ser desvinculados do ambiente social que envolve as travestis e mulheres trans”.
Fotos: Luciana Kamel