Multiplicação ao acesso à PrEP
Cléo Oliveira
e
Gabriel Mota
Separados por mais de quatro mil quilômetros, Cléo Oliveira, do Rio de Janeiro, e Gabriel Mota, de
Manaus, têm algo em comum: são educadores de pares dos centros de estudos do ImPrEP com maior número de participantes voluntários. Verdadeiros
agentes comunitários que ampliam o acesso à informação e ao conhecimento sobre a profilaxia pré-exposição ao HIV.
Com a palavra
ER - Quais as funções de um(a) educador(a) de par do ImPrEP?
CO - Basicamente, é fazer a interlocução entre o projeto e a população-alvo. Apresentar a PrEP e a prevenção combinada para gays, mulheres trans, profissionais do sexo e público HSH.
GM - Em primeiro lugar, apresentar a PrEP. Também levamos informações sobre a prevenção combinada para a população-alvo do programa, formada por gays, mulheres trans, profissionais do sexo e público HSH.
ER - Quais os principais desafios?
CO - São vários: disseminar a importância da prevenção combinada entre a população-alvo, fazer com que o público venha até a gente, pois é impossível estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e garantir que as pessoas entendam o que é e como funciona o projeto.Nem sempre alcançamos nossos objetivos, mas, na maioria das vezes, saímos com a sensação do dever cumprido.
GM - Atrair a adesão das mulheres trans. Sinto que em Manaus ainda é o público mais inacessível. Outro desafio é conscientizar as pessoas de que não basta só tomar um comprimido por dia. Tem que realizar também os outros procedimentos previstos no programa.
ER - Qual o seu método de abordagem das pessoas?
CO - Depende do público. Procuro sempre focar nos mais jovens, mas não tenho um método de abordagem definido. O importante é fazer com que a população-alvo se identifique comigo. Preciso da confiança das pessoas para poder mostrar-lhes os benefícios da PrEP.
GM – A gente vai aonde a população-alvo está e procura fazer uma abordagem cordial. Mas, atualmente, temos um foco grande também nas redes sociais. Sou presidente da ONG Associação Manifesta LGBT+ e usamos nossos perfis no Facebook e Instagram para chamar a atenção sobre os benefícios da PrEP.
ER - Como você é recebido(a)?
CO - Geralmente sou super bem recebida. Existem exceções, claro, mas são raras. As pessoas querem saber o que é a prevenção combinada. Outra coisa: muitos já ouviram falar da PrEP, mas não sabem exatamente do que se trata. No momento da abordagem, a curiosidade é sempre uma aliada.
GM - Acho que, em 90% das vezes, muito bem. Lógico que existem os que não gostam de ser importunados, mas quase sempre as pessoas são receptivas. Muitos querem entender o que é a PrEP, como ela funciona. A maioria se diz disposta a aderir ao programa. É só uma questão de abordagem correta.
ER - Entre as ações já praticadas, qual a que você destaca?
CO - As ações nas ruas com as mulheres trans profissionais do sexo. É gratificante quando elas percebem que não são invisíveis, que alguém nota a existência delas. Gosto quando elas se sentem empoderadas. Ter uma parceira por perto ainda é uma realidade muito nova na vida dessas mulheres.
GM - A ação que realizamos durante o último carnaval. Temos uma importante parceria com a Secretaria de Saúde e fizemos a divulgação da PrEP durante os desfiles das escolas de samba aqui de Manaus. Montamos um estande e levamos materiais informativos. Acabou sendo muito proveitoso.
ER - Como vê a sua contribuição para a prevenção do HIV?
CO - Não é somente a questão da prevenção do HIV. Sei da minha importância enquanto educadora, sei que é uma grande contribuição. Mas para mim, enquanto mulher trans, negra,nascida e criada em comunidade, vai muito além. É uma contribuição social. É mostrar para as pessoas que, assim como eu, elas podem modificar suas realidades.
GM - Como professor, procuro seguir os passos de Paulo Freire: a educação é a chave para a transformação. Educar é uma meta que estabeleci para mim. Uma meta de vida. Enquanto puder, continuarei educando em busca de um mundo melhor. É assim que posso contribuir com essa causa.