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crédito: Ricardo Loreno/Éricles Rufino  

PREP 15-19: PREVENÇÃO INOVADORA PARA JOVENS

Se por um lado são grandes os desafios para o enfrentamento da epidemia de HIV/Aids, especialmente entre os jovens, por outro, os avanços científicos, médicos e sociais são igualmente imensos e, muitas vezes, exigem uma boa dose de criatividade com responsabilidade. Prova disso é o projeto PrEP15-19 voltado a demonstrar, por meio de estudos e de atividades de recrutamento, retenção e acompanhamento, a efetividade e a necessidade de aumentar o acesso da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) aos adolescentes. No Brasil e no mundo, essa população ainda apresenta altos índices de crescimento de infecção. De 2006 a 2015, a taxa mais que triplicou entre os jovens brasileiros.

A PrEP faz parte da chamada prevenção combinada, que associa diferentes métodos de prevenção ao HIV, às infecções sexualmente transmissíveis (IST), ao mesmo tempo ou em sequência, conforme as características e o momento de vida de cada pessoa

O estudo, que é desenvolvido em conjunto com o ImPrEP-adulto, é destinado a alcançar cerca de 2 mil adolescentes masculinos que fazem sexo com outros homens, mulheres transexuais e travestis com idade entre 15 e 19 anos, em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. “O objetivo inicial é fazer com que os interessados a conhecer e/ou a integrar o projeto se sintam bem acolhidos e ouvidos em suas preocupações e dúvidas em termos de sexualidade e HIV/Aids numa fase da vida nem sempre fácil para alguns”, analisa Inês Dourado, coordenadora da iniciativa em Salvador (UFBA). Em SP e BH, os pesquisadores principais são Alexandre Grangeiro (USP) e Dirceu Greco (UFMG), respectivamente.

Frentes de trabalho

Mas como chegar às populações-alvo do estudo? Foram abertas várias frentes de trabalho. A primeira delas é o recrutamento in loco, ou seja, educadores/as de pares do PrEP15-19 e agentes de prevenção de órgãos governamentais vão às ruas e aos locais de sociabilidade, além do estabelecimento de parcerias com ONGs que atuam junto a esses públicos e unidades de saúde.

Outra importante frente é a apresentação da iniciativa via redes sociais, como Facebook, Instagram e grupos de WhatsApp. “Optamos por estratégias de comunicação que falem a língua de cada segmento abordado pelo estudo, como por exemplo, histórias em quadrinhos. Entretanto, o destaque são os recursos de inteligência artificial (IA) utilizados”, comenta Inês.

Esse recurso de IA é, na verdade, um chatbot programado para responder a questões feitas via Messenger, uma inovação na abordagem da PrEP junto a adolescentes. Para isso, foi criada a personagem “Amanda Selfie”, a primeira travesti robô do Brasil, que responderá a perguntas gerais sobre IST, bem como identificará jovens em maior risco de infecção pelo HIV e oferecerá a eles serviços de prevenção, como PrEP, PEP (profilaxia pós-exposição), aconselhamento, consultas de IST e acesso a testes.

 

“Amanda Selfie atuará como um serviço virtual de HIV para jovens e, numa fase mais avançada, também estará capacitada a mobilizar os jovens a permanecerem e aderirem à PrEP”, informa Inês.

Após a abordagem inicial, os interessados em fazer parte do estudo passam por outras etapas até iniciarem o seguimento no projeto. O protocolo é similar à PrEP para adultos, com uma bateria de exames - incluindo testagem para HIV, avaliação geral de saúde -, preenchimento de questionário sociocomportamental e esclarecimento de dúvidas. Caso tenha indicação para PrEP e esteja disposto a participar, o adolescente assina um termo de consentimento/assentimento, recebe a medicação, preservativos, com retorno programado para 30 dias. O acompanhamento é trimestral com realização de exame clínico e laboratorial visando avaliar a presença de IST e se ocorreu a infecção pelo HIV. O estudo acompanha cada jovem durante um ano.

Importante frisar que, no caso de o interessado ser HIV positivo e, portanto, não poder participar da iniciativa, o jovem terá encaminhamento supervisionado para unidades de saúde do SUS para iniciar o tratamento antirretroviral. “Essa supervisão é feita pelos educadores/as de pares, pela equipe da pesquisa e pelos chamados navegadores, que são facilitadores voltados a orientar os participantes nos trâmites oficiais do sistema de saúde local”, esclarece a pesquisadora.

Caso o adolescente não queira usar a PrEP, também poderá participar do projeto. É o chamado “braço não-PrEP”. Nele, o jovem terá acesso ao mesmo leque de opções em termos de prevenção combinada, que inclui entre outros, o aconselhamento em IST/HIV/Aids, acesso e orientação para o uso de preservativo, gel lubrificante, autoteste de HIV e o acompanhamento necessário.

A questão da idade

Um dos itens que ainda causam debates é o da autorização da mãe, pai ou responsável por conta da idade dos jovens com 15 a 17 anos. Em São Paulo, por determinação do Comitê de Ética em Pesquisa da USP, que acompanha o estudo, o assunto foi levado ao Ministério Público que, seguindo a tendência das estratégias de saúde dos principais organismos mundiais, deliberou que deve prevalecer o direito à saúde dos adolescentes em relação a todos os outros; e que, se eles são capazes de decidir autonomamente sobre sua sexualidade, também são capazes de decidir sobre a prevenção. Assim, a decisão judicial garantiu aos adolescentes o direito ao uso de PrEP e, portanto, participar independentemente da autorização de mãe, pai ou responsável.

Em Salvador, o Ministério Público irá enviar para o Juizado da Vara de Infância e adolescência a exposição de motivos da não exigência de consentimento pelos pais ou responsáveis para os jovens de 15 a 17 anos, em situações relatadas pelos adolescentes de violência psicológica, violência física e/ou rompimento familiar. Em Belo Horizonte, as negociações nesse mesmo sentido estão em andamento.

Desde março de 2019, o estudo já se encontra em operação no centro da cidade de São Paulo, em parceria e utilizando as instalações do Centro de Testagem Anônima Henfil, uma unidade da Secretaria Municipal de Saúde.

Em Salvador, a iniciativa de inscrição dos adolescentes começou em abril, na Clínica de PrEP localizada no Casarão da Diversidade, no Pelourinho- Centro Histórico de Salvador, que abriga diversos projetos de direitos humanos da população LGBT em parceria e utilizando as instalações da Secretaria da Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Governo do Estado da Bahia. “Aqui, na capital baiana, montamos uma clínica específica para o PrEP 15-19, toda equipada para o melhor acolhimento dos participantes, chamado localmente de PrEPara Salvador”, comenta Inês.

Em Belo Horizonte, o estudo será iniciado ainda no final de abril no Centro de Referência da Juventude, espaço de convívio de jovens, muitos em situação de vulnerabilidade social, em parceria da UFMG com a Prefeitura de Belo Horizonte.

“Tenho certeza que os resultados do PrEP15-19 trarão imensos benefícios aos jovens e servirão não apenas para a comprovação da eficiência da PrEP junto aos adolescentes, mas também para a definição de estratégias governamentais para a sua efetiva ampliação a um número maior de beneficiários”, finaliza Inês.

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