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Alcançando e envolvendo mulheres trans: uma cascata de recrutamento bem-sucedida em um serviço de prevenção ao HIV no Rio de Janeiro

Conduzido por Cristina Jalil e outros pesquisadores* do INI/Fiocruz, “Alcançando e envolvendo mulheres trans: uma cascata de recrutamento bem-sucedida em um serviço de prevenção ao HIV no Rio de Janeiro, Brasil”, aborda o trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisas Clínicas  do instituto.

As mulheres transexuais são afetadas de forma desproporcional pela epidemia de HIV em todo o mundo. No entanto, estigma, marginalização social e transfobia impedem essa população de acessar serviços de prevenção e assistência ao HIV. Nesse sentido, desde 2015, a Fiocruz implementa uma clínica de saúde transgênero e desenvolve estudos de prevenção e tratamento do HIV para essa comunidade. 

As mulheres diagnosticadas com infecção pelo HIV recebem cuidados e iniciam imediatamente a terapia antirretroviral, e as mulheres com alto risco de contraírem o HIV são encaminhadas para serviços de prevenção, entre eles as profilaxias pré e pós exposição (PrEP e PEP). Cuidados clínicos, incluindo saúde mental e endocrinologia, são oferecidos sem nenhum custo. 

Além disso, a instituição contratou educadoras comunitárias trans, foram criados espaços neutros/ afirmativos em relação ao gênero e implementadas atividades e serviços de apoio, como oficinas de arte, aulas de dança e assistência jurídica. Entre as principais estratégias de recrutamento, estão: encaminhamento de pares, atividades de divulgação de educadores em locais trans e locais de trabalho sexual, bem como campanhas de mídia social. Também foi disponibilizada uma linha direta para o caso de haver eventos adversos ou preocupações sobre o uso da PrEP e da PEP.

O contato entre as usuárias e o serviço foi reforçado pela implementação de estratégias de aproximação e acolhimento por parte das educadoras de pares da equipe, inclusive por intermédio de projetos de tratamento e prevenção do HIV. Informações sobre dados demográficos, teste de HIV e PrEP foram coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas. 

De outubro de 2018 a novembro de 2019, 467 dessas mulheres foram avaliadas. A maioria foi encaminhada por pares (64,9%) e 15,2% por atividades de recrutamento e divulgação realizadas in loco pelas educadoras comunitárias trans que fazem parte da equipe. 16,7% vieram para a prevenção de serviços por demanda espontânea e 2,4% por indicação de profissionais de saúde. Apenas 0,8% foi referido por anúncios em mídias sociais.

A idade média foi de 26 anos (80,6% abaixo de 36 anos), 72,6% não eram brancas e 48.9% tinham ensino fundamental ou menos. Noventa mulheres transexuais foram infectadas pelo HIV (prevalência de 19,3%), a maioria encaminhada por pares. Essa estratégia também recrutou usuárias com baixa escolaridade. 

Entre as 377 não infectadas pelo HIV, 28 (7,4%) atendiam aos critérios para o uso de PEP e a iniciaram no mesmo dia; 312 (82,8%) eram elegíveis para PrEP, com captação de 39,1%. A adesão à PrEP foi maior entre as participantes trazidas pelos educadores de pares da equipe por meio de recrutamento in loco (54%), o que pode estar relacionado à criação de um elo desde o início entre as mulheres trans e essas educadoras, vinculando-as mais fortemente ao serviço.Essa estratégia também foi a mais eficaz para o recrutamento de participantes não infectadas pelo HIV (88,7%) e de usuárias jovens entre 18 e 24 anos (54,3%), provando ser essencial para o recrutamento para prevenção ao HIV.

Entre as conclusões, o trabalho aponta que uma forte parceria com as comunidades trans e o estabelecimento de um cenário de afirmação de gênero levaram ao recrutamento bem-sucedido de mulheres trans jovens e vulneráveis para serviços de prevenção e assistência e projetos de pesquisa. 

Mais de 80% das transexuais avaliadas foram recrutadas por colegas, amigas e educadoras, demonstrando que a inclusão por pares é de extrema relevância. Os números de aceitação da PrEP mostram ser um desafio extremamente importante desenvolver estratégias para inclusão e manutenção dessas mulheres na prevenção do HIV. A experiência bem-sucedida no uso de pares e atividades para alcançar e recrutar essa população parece ser uma excelente alternativa em termos de adesão e retenção na prevenção do HIV.

O uso das mídias sociais ainda não se mostrou uma estratégia útil para o recrutamento dessa população, o que pode estar relacionado à vulnerabilidade social e às condições econômicas desfavoráveis nas quais vive grande parte das mulheres trans. Seriam necessárias mais pesquisas para explorar as especificidades de como alcançar essa população por meio da modalidade virtual.

 

*Autores do trabalho: Cristina Jalil, Daniel Bezerra, Thiago Torres, Lara Coelho, Emília Jalil, Eduardo Carvalheira, Cléo Souza, Laylla Monteiro, Toni dos Santos Araújo, Josias Freitas, Daniel Waite, Luciana Kamel, José Roberto Grangeiro, Edilene Bastos, Alexandre Nabor, Nilo Fernandes, Sandra Cardoso, Brenda Hoagland, Valdiléa Veloso e Beatriz Grinsztejn, todos do INI/Fiocruz/RJ

Clique aqui para acessar o material apresentado na conferência.

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