Um alerta para melhorar a compreensão do slogan
“Indetectável = Intransmissível (I = I)" no Brasil
Estudos comprovam que pessoas que vivem com HIV, que fazem tratamento antirretroviral e têm carga viral indetectável há mais de seis meses, não transmitem o vírus (“Indetectável= Intransmissível”). O conceito é mais conhecido pelo slogan I=I (Undetectable = Untransmissible: U=U) e já é utilizado por cientistas e instituições de referência sobre o HIV em abrangência mundial. Apesar disso, esse conceito ainda não foi totalmente assimilado, assim como os seus benefícios continuam a apresentar aceitação diferenciada nas mais variadas populações. No entanto, a devida compreensão do conceito pode ajudar a reduzir a transmissão do HIV, bem como o estigma social em relação às pessoas que vivem com o vírus.
O estudo “Um alerta para melhorar a compreensão do slogan 'Indetectável=Intransmissível (I =I)' no Brasil”, desenvolvido por Thiago Torres e outros pesquisadores* do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, buscou avaliar como essa ferramenta de prevenção é entendida em três grupos: pessoas vivendo com HIV (PVH), homens gays/bissexuais cisgênero HIV negativo/desconhecido que fazem sexo com homens (GMB - gay/bissexual men) e outras populações HIV negativo/desconhecido (POP).
Brasileiros com idade igual ou superior a 18 anos foram recrutados durante outubro de 2019 para concluir uma pesquisa via web anunciada no Grindr, Facebook e WhatsApp. O entendimento relativo a I=I foi acessado por intermédio da pergunta: “No que diz respeito aos indivíduos infectados pelo HIV que transmitem o vírus por meio de contato sexual, qual a precisão que você acredita que o slogan I = I (indetectável igual a intransmissível) possui?”. As opções de resposta variavam de 1 (completamente impreciso) a 4 (completamente preciso), além de uma quinta opção (não sei o que significa "indetectável").
As características dos participantes foram descritas de acordo com o grau de conhecimento percebido em relação a I = I (completamente/parcialmente preciso x completamente/parcialmente impreciso). Modelos de regressão logística ordinal avaliaram os fatores associados ao aumento do conhecimento sobre I = I por grupo.
Dos 2.311 indivíduos que acessaram a pesquisa, 1.690 foram incluídos na análise.GBM eram mais jovens (idade mediana de 33 anos) em comparação com PVH (mediana de 40 anos) e POP (mediana de 48 anos).No geral, a maioria dos participantes era não negra (89%), possuía renda média alta (68%), educação superior ao nível médio (65%) e residia nas áreas metropolitanas das capitais dos estados (71%).
A maioria POP tinha um parceiro fixo (64%), enquanto uma fração muito menor foi observada para PVH (37%) e GBM (28%). Mais GBM relataram testes para HIV (85%) do que POP (69%). Uma parcela maior de PVH percebeu I = I como total ou parcialmente preciso, em comparação com GBM e POP.
O estudo aponta que o conhecimento percebido quanto a I = I não atingiu mais de um terço dos GBM cisgênero HIV negativo/desconhecido e 2/3 das mulheres cisgênero HIV negativo/ desconhecido, homens heterossexuais e outras populações.
Semelhante a estudos anteriores realizados em contextos de alta renda, os resultados sugerem maior conhecimento entre aqueles que vivem com HIV, embora seja importante destacar que 10% dessa amostra ainda consideram I = I impreciso.
A constatação de que o conhecimento prévio acerca de I=I varia de acordo com o grupo pode ajudar a identificar subgrupos para os quais são necessários esforços educacionais adicionais para aprimorar os benefícios de prevenção individual e populacional oriundos desse conceito.
No Brasil, são necessárias estratégias educativas especiais sobre o I=I como ferramenta de prevenção, particularmente entre PVH negras e GBM de baixa renda.
*Autores do trabalho: Thiago Torres, Luana Marins, Daniel Bezerra, Valdiléa Veloso, Beatriz Grinsztejn e Paula Luz, todos do INI/Fiocruz.
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