Estudo de soroincidência do ImPrEP
Entre os trabalhos apresentados no simpósio, estavam os principais resultados do “Estudo de soroincidência do ImPrEP”, conduzido por Thiago Torres, pesquisador do INI/Fiocruz, referente à etapa inicial do projeto que, de 2018 a 2021, dedicou-se à implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na modalidade oral no Brasil, Peru e México.
Thiago iniciou a explanação afirmando que os casos de HIV no Brasil e no Peru, países onde foi realizado o estudo de incidência, estão concentrados nas populações de gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e de mulheres transgênero e informou que, ao contrário do Brasil, no Peru a PrEP só foi formalizada como uma política pública de saúde recentemente.
O pesquisador ressaltou que o estudo buscava investigar infecções recentes pelo HIV e estimular a testagem para detecção do vírus em minorias sexuais e de gênero dos dois países. A pesquisa reuniu 6.899 participantes, sendo 4.586 brasileiros e 2.313 peruanos, todos maiores de 18 anos e que realizaram teste para o HIV e infecções sexualmente transmissíveis na inscrição do estudo.
No total, 86% dos voluntários eram HSH, 11% mulheres trans e 3% pessoas não-bináries. A média de idade era de 27 anos e 65% tinham menos de 30. Setenta e dois por cento possuíam o ensino secundário incompleto e 79% eram pessoas de baixa renda.
A pesquisa aconteceu em seis cidades e seis centros de estudos brasileiros e em sete cidades e 12 centros de estudos peruanos. Os critérios de exclusão foram: estar em uso da PrEP ou de medicamentos antirretrovirais, ter o sexo feminino atribuído no nascimento, ser homem cisgênero que faz sexo com mulheres cisgênero e ter um diagnóstico positivo de HIV. Utilizaram-se testes de HIV de quarta geração, com os resultados sendo confirmados por um segundo teste rápido de modelo diferente.
Incidência
De janeiro de 2021 a maio de 2022, a incidência do vírus foi analisada de acordo com o país, a idade, a raça e o gênero dos participantes. Foram usados modelos multivariáveis de regressão logística para se estimar fatores associados a infecções recentes pelo HIV e o número de infecções evitadas devido ao uso da profilaxia durante o período de acompanhamento.
No total, 839 pessoas (501 no Brasil e 338 no Peru) nunca haviam sido testadas para o HIV e a maioria (1.291 no Brasil e 813 no Peru) não realizava o teste há mais de 12 meses. Os principais motivos para não testar eram o receio de um resultado positivo e o medo do estigma e da discriminação. Seiscentos e vinte e um participantes (607 no Brasil e 14 no Peru) tinham tomado a profilaxia pós-exposição (PEP) ao HIV nos 12 meses anteriores ao estudo e 353 (210 no Brasil e 143 no Peru) haviam usado a PrEP nos últimos seis meses anteriores à pesquisa.
No geral, a prevalência do HIV durante o período de acompanhamento do estudo foi de 11,4% (18% no Peru e 8% no Brasil), com o registro de 137 infecções recentes (73 no Peru e 64 no Brasil). Como comparação, 24 brasileiros e 62 peruanos soroconverteram para o HIV durante todo o projeto ImPrEP (de 2018 a 2021). Ser mais jovem, entre 18 e 24 anos, foi altamente associado a infecções recentes. Os HSH sofreram mais soroconversões do que as mulheres trans e as pessoas não-bináries. Os negros apresentaram maior número de infecções do que os pardos/mestiços e brancos.
Segundo Thiago, é possível afirmar que a alta prevalência do HIV e as infecções recentes pelo vírus são um fardo entre as minorias sexuais e de gênero do Brasil e do Peru. O pesquisador acrescentou que no Peru a nova política de prevenção combinada, incluindo a PrEP, pode alterar o cenário da epidemia. Finalizou afirmando que a PrEP na modalidade injetável de longa duração deve contribuir para a redução dos casos de HIV na região, especialmente entre HSH e mulheres trans.