Capacitação sobre prevenção combinada
A coordenadora clínica do ImPrEP iniciou a capacitação traçando um
histórico sobre os 38 anos da epidemia de HIV/AIDS no mundo, com
destaque para a chamada Mandala da Prevenção. Brenda dedicou-se a explicar todos os componentes da mandala, buscando interagir com os participantes a respeito do conhecimento acerca de cada tecnologia de prevenção e a relação com as populações-chave e prioritárias, como gays e outros HSHs, população trans, jovens e pessoas negras.
Ressaltou a importância da testagem e da adesão ao tratamento para as pessoas vivendo com HIV, frisando a necessidade de se divulgar o chamado I = I, ou seja, carga viral indetectável significa HIV intransmissível via sexual. Deu especial destaque aos mais diversos aspectos do uso da PrEP, citando trabalhos específicos sobre a eficácia da profilaxia e a importância de estudos de demonstração como o PrEP Brasil, que forneceu subsídios para o Governo Federal tomar a decisão de recomendar a profilaxia como uma estratégia de prevenção ao HIV no Brasil, iniciada entre o final de 2017 e o início de 2018 em unidades do SUS. Entre elas, estão os 14 centros de estudos ImPrEP.
Abordou situações a que a profilaxia se destina, as etapas de acompanhamento descritas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para PrEP, janela imunológica e teste de HIV de quarta geração, entre outros temas. Mencionou a importância do SICLOM, sistema eletrônico criado para controlar a dispensação de antirretrovirais no país, lembrando que, hoje, a ferramenta possui uma interface PrEP para registrar dados sobre os usuários da profilaxia em tempo real, permitindo saber, por exemplo, se as populações mais vulneráveis vêm sendo
atendidas.
Também explicou que a PrEP sob demanda, resultado do estudo Ipergay, ainda não recomendada oficialmente no Brasil, só é indicada para HSHs que têm menos de duas relações sexuais por semana e conseguem programá-las com antecedência. Nesses casos, será necessário ingerir dois comprimidos ao mesmo tempo de 2 a 24 horas antes da relação sexual, mais um comprimido 24 horas após a primeira dose e um outro 48 horas após a dose inicial.
Baseado nas evidências do Ipergay e de outros estudos, serão popostas emendas ao Protocolo do Estudo de Demonstração ImPrEP, como iniciar ou reiniciar o uso da profilaxia sempre com dois comprimidos, o que permitiria não mais recomendar ao(à) usuário(a) aguardar sete dias para
que o medicamento comece a fazer efeito no corpo. Caso a sugestão seja aceita pelo Ethics Review Committee, da Organização Mundial da Saúde, o ImPrEP adotará esse procedimento junto aos seus participantes visando fornecer dados mais apurados para aumentar as alternativas oficiais de prevenção combinada ao HIV.
Destaques dos debates com a platéia
- Preservativos: a necessidade de se usar novas nomenclaturas para as camisinhas, como externos e internos (no lugar de masculinos e femininos), visando maior reconhecimento e aderência por parte dos usuários e usuárias.
- PrEP: a cada dia que a pessoa perde uma dose, seu nível de proteção cai. A profilaxia é segura quando o medicamento é tomado diariamente.
- PEP: para melhor entendimento, a sugestão é sempre fazer uma analogia com “a pílula do dia seguinte” no caso da gravidez. Quanto ao uso de bebida alcoólica, o ideal é tomar a PEP antes ou depois, porém, mais importante é não deixar de tomá-la.
- Redução de danos: a cultura local também interfere nas alternativas de gerenciamento de riscos. Pesquisa do projeto PrEP Brasil indicou que a circuncisão, por exemplo, não seria um método adotado pela maioria como redução de danos pelos participantes.
- Testagem para HIV, ISTs e hepatites virais: a frequência da testagem depende das práticas sexuais de cada pessoa.
- Vacinas: a imunização contra hepatite A não faz parte do portfólio oficial dos serviços de saúde, sendo oferecida apenas por alguns deles.