PrEP – Onde estamos agora? Estado da arte das pesquisas
A co-pesquidaora principal do ImPrEP iniciou afirmando que, apesar de todo o progresso, a epidemia de HIV/AIDS está longe de ser controlada. Cerca de 5 a 6 mil novas infecções acontecem a cada dia no mundo, sendo que 25% das pessoas que vivem com o vírus não sabem disso, o que torna o controle ainda mais difícil. Na América Latina, 1,9 milhão de indivíduos são HIV positivos, com 100 mil novas infecções/ano, sendo gays/HSHs, travestis e população trans os mais afetados. Especificamente no Brasil, estudos demonstram que a prevalência do HIV também atinge esses públicos, destacando não haver muitos dados sobre as pessoas trans.
Em seguida, traçou um panorama sobre o tratamento antirretroviral (TARV) no mundo, apontando um aumento de pessoas em uso desses medicamentos. Chamou atenção para estudos que comprovam que a adesão à TARV é fundamental para a não transmissão do HIV, inclusive entre casais sorodiscordantes. Nesse sentido, frisou ser necessário intensificar a divulgação da mensagem I=I (Indetectável = Intransmissível), tanto nas ações de adesão à TARV, quanto nas ações de prevenção. Entretanto, fez questão de dizer que apenas o tratamento antirretroviral não é suficiente para garantir o controle da epidemia.
Cada dia mais a PrEP se mostra como importante estratégia de prevenção ao HIV. A pesquisadora citou os principais estudos existentes, destacando o iprex, para HSHs e população trans, e o Ipergay. Afirmou ser necessária uma visão crítica entre os resultados dos estudos científicos e clínicos e a implementação na ponta, ressaltando a importância de estudos de demonstração como o PrEP Brasil e, mais recentemente, o ImPrEP.
Beatriz focou nos importantes resultados propiciados pelo PrEP Brasil, iniciado em 2014, que se debruçou sobre as populações HSH, trans, profissionais de sexo e casais sorodiferentes do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Manaus. Dos participantes inicialmente abordados, com elegibilidade para uso da PrEP, 61% começaram a usá-la – 87% se mantiveram no projeto um ano depois, com 74% com níveis de droga protetores no sangue. Dois anos depois, 62% continuavam no PrEP Brasil, o que significa constante testagem para o HIV. Ressaltou o baixo número de voluntárias trans e a difícil manutenção da população negra no projeto. Esses resultados ratificam a necessidade de estratégias específicas para os públicos mais vulneráveis, lembrando que a PrEP é alternativa bastante positiva em termos de custo-efetividade.
No tocante ao ImPrEP, a pesquisadora destacou que a continuidade no uso da profilaxia é um pouco pior no Peru do que no Brasil e no México, e de forma geral a retenção é um problema maior para jovens e população trans. Uma recomendação é a realização de um processo conscientizador na etapa de inclusão dos participantes no projeto.
Em termos de segurança, lembrou da existência de mais de 40 estudos de demonstração que garantem a eficácia da PrEP, com poucos relatos de soroconversão para o HIV, inclusive no ImPrEP. Estudos comprovam que os relatos existentes de soroconversão foram decorrentes da não-adesão correta à profilaxia.
Segundo Beatriz, a expansão da PrEP pelo mundo vem contribuindo em muito para a diminuição de novos casos de HIV. Citou a queda positiva nos últimos anos no Estado de São Paulo, o que provavelmente contou com a implementação da PrEP, em especial entre HSH, com exceção dos homens negros. A pesquisadora afirmou que os demais estados brasileiros precisam chegar aos níveis já atingidos por São Paulo.
Como aconteceu com o advento da pílula anticoncepcional, novas modalidades de estratégias em PrEP vêm sendo estudadas e/ou encontram-se em desenvolvimento. Uma delas é a PrEP sob demanda, recentemente preconizada pela OMS para HSHs, a partir dos resultados dos estudos Ipergay e Prevenir , com comparações entre a dose diária e a eventual. Caso seja uma estratégia aprovada pelo Ministério da Saúde, o ImPrEP testará a oferta da PrEP sob demanda.
Outro estudo comentado foi o Discover, que abarcou mais de 5 mil homens brancos e mais velhos dos EUA e Europa visando a comparação entre a nova substância TAF e a combinação atualmente usada para PrEP (FTC/TDF). Alguns pesquisadores colocam dúvidas sobre a pouca diversidade populacional e a não utilização de testagem para o HIV durante o estudo, destacando não haver diferenças significativas em termos de eficácia entre as duas opções. Ressalte-se, ainda, que o TAF apresentas custos de fabricação bem superiores aos da atual combinação de FCT/TDF, que já vem sendo produzida pelo Fiocruz no Brasil.
Beatriz apresentou também novas tecnologias em PrEP que visam colaborar para minimizar as dificuldades de quem usa a profilaxia, em especial aqueles que não conseguem aderir à ingestão diária do comprimido. Uma delas é a PrEP de longa duração, injetável, baseada na substância cabotegravir, citando estudos como Eclair, HPTN 083 e 084. De acordo com a pesquisadora, ao contrário do que se imagina, a injeção é bem aceita por diversas populações em todo o mundo. Como desvantagens, a presença da substância por mais tempo no corpo e a não indicação para aplicação em quem tem próteses de silicone.
Além disso, comentou sobre estudos com anticorpos monoclonais, como o AMP, também desenvolvido no Brasil, implantes e microagulhas, via adesivos (essas novas tecnologias podem ser conhecidas em http://imprep.org/2019/10/10/novas-tecnologias-para-prep/). A pesquisadora finalizou afirmando ser ainda baixo o número de usuários de PrEP no Brasil, sendo necessário focar em estratégias nacionais e locais para atingir as populações que se encontram em maior risco e expandir a testagem para HIV e outras ISTs.