Gerson Pereira
Nesta entrevista exclusiva ao ImPrEP em Rede, o diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Gerson Pereira, explana sobre o universo da prevenção combinada ao HIV e ressalta a parceria com o projeto ImPrEP. Confira.
Com a palavra
Como avalia o atual cenário da prevenção combinada ao HIV no país?
No que diz respeito à prevenção combinada, ainda que o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, do Ministério da Saúde, tenha desenvolvido ações voltadas à população geral, tem sido dada ênfase às populações-chave (gays e outros homens que fazem sexo com homens [HSHs], pessoas que usam álcool e outras drogas, trabalhadoras do sexo, pessoas trans e pessoas privadas de liberdade) e prioritárias (populações jovem, negra, indígena e em situação de rua).
Todas as ações de prevenção combinada ao HIV para esses grupos estão organizadas dentro da Agenda Estratégica para Ampliação do Acesso e Cuidado Integral das Populações-Chave e Prioritárias, elaborada e lançada em 2018 pelo Ministério da Saúde.
Nesse sentido, o país busca ampliar o leque de ações de prevenção ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), adequadas às necessidades específicas e às escolhas de cada grupo ou de cada indivíduo, conforme seu contexto de vida. Nesse aspecto, a estratégia de prevenção combinada tem sido levada a cabo, contemplando todos os componentes da prevenção, como incentivo do uso de preservativos e lubrificantes e a oferta de estratégias biomédicas, como é o caso da Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) entre pessoas com risco de infecção pelo HIV.
Entre 2013 e 2018, houve aumento de cerca de 272% no número de dispensas de PEP no país. A PrEP, por sua vez, passou a ser ofertada no SUS em janeiro de 2018 e, até fevereiro de 2019, já estava disponível em 109 serviços de 22 estados e no Distrito Federal. No ano de 2018, 8.108 indivíduos tiveram pelo menos uma dispensação da profilaxia.
Além disso, o Ministério da Saúde apoia cinco projetos de pesquisa sobre PrEP, incluindo o ImPrEP e 45 projetos para oferta de ações de prevenção combinada dirigidas às populações-chave e prioritária para o HIV em parceria com organizações da sociedade civil. Essa estratégia recebe o nome de Viva Melhor Sabendo e consiste na oferta de testagem rápida de HIV por amostra de fluido oral, por meio da metodologia composta por abordagens de educação entre pares. Nessa estratégia também são disponibilizados preservativos, lubrificantes, orientações sobre PrEP, entre outras ações.
Dentro desse cenário, qual a importância da PrEP?
Apesar da redução da morbimortalidade associada à infecção pelo HIV observada nos últimos anos, as tecnologias de prevenção atualmente disponíveis, como uso consistente e sistemático de preservativos e testagem regular de HIV, têm se mostrado insuficientes para reduzir o número de novas infecções. Esse fenômeno vem sendo observado em países com características de epidemia concentrada, semelhantes ao Brasil, nos quais determinados segmentos populacionais apresentam maiores taxas de detecção e de prevalência do HIV quando comparados à população em geral.
Assim, para essas populações sob maior risco de aquisição do HIV, faz-se necessária a
incorporação de novas estratégias focalizadas de prevenção, seguras e eficazes,
complementares as já existentes, como forma de impactar na redução de novos casos
de HIV naquelas populações sob maior risco.
Como dito anteriormente, a PrEP é uma estratégia adicional dentro de um conjunto de ações preventivas, a chamada prevenção combinada, que inclui: testagem regular do HIV, PEP, pré-natal para gestantes soropositivas, redução de danos para uso de drogas, testagem e tratamento de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), uso de preservativo masculino e feminino, e tratamento antirretroviral (tratamento como prevenção).
Quais os principais desafios do programa nacional de PrEP?
Atualmente, os esforços do SUS têm se concentrado em ampliar e qualificar a rede de oferta de PrEP no país. Podemos dizer que o maior desafio é fazer com que a PrEP chegue a pessoas que estão sob maior vulnerabilidade social e, por isso, têm dificuldade em acessar os serviços de saúde.
Como avalia a parceria com o ImPrEP?
Em parceria com o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, Ministério da Saúde dá suporte para o projeto de pesquisa ImPrEP – Implementação da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) para homens que fazem sexo com homens e pessoas transgênero. É um projeto de demonstração, no contexto de prevenção combinada, desenvolvido no Brasil, México e Peru. Trata-se de estudo multicêntrico, em 8 estados, 11 cidades e 14 centros no Brasil, 3 centros no México e 10 centros localizados no Peru. É uma importante parceria para o ministério, uma vez que gera evidências científicas em tempo real e que estão sendo consideradas para o aprimoramento da política de PrEP do país.
O que esperar dessa parceria em 2020?
Para 2020, esperamos os resultados do estudo e as evidências científicas e avaliações sobre a retenção dos usuários de PrEP, o estudo de incidência nessa população e sobre as outras ISTs nas populações HSH e trans usuárias de PrEP nessas cidades. Esperamos que os resultados possam trazer contribuições efetivas para a consolidação da política de PrEP no Brasil e na região da América Latina.