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Educação de pares: estratégia que faz a diferença

Para muita gente, o trabalho dos EPs poderia ser traduzido como uma nova maneira de definir as funções dos agentes de saúde comunitários. Caio Gusmão, EP do ImPrEP em Campinas, no entanto, esclarece: “A diferença principal entre EPs e agentes é que somxs pares entre nós e entre usuáries, ou seja, uma bixa, uma travesti ou uma mulher trans dentro de um centro de saúde promovendo vínculos e o encontro entre saúde e prevenção para outras bixas, travestis e mulheres, trabalhando para garantir um acesso mais amplo ao serviço”. E complementa: “Talvez ser educadore ou educadora sapa-trans-bixa seja criar imaginários para além da comunidade, radicalizar os encontros para 

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potencializar ações e serviços,  transbordar os questionários básicos clínicos e promover possibilidades de prevenção e cuidado em relação a infecções sexualmente transmissíveis, HIV e Aids”. 

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A EP do ImPrEP em Brasília, Ludymilla Santiago, concorda com Caio e amplia a discussão sobre a importância de expandir e valorizar o trabalho desenvolvido: “A educação de pares pode e deve ser inserida em todas as atividades de uma sociedade, em especial no serviços de saúde. Mas infelizmente só conseguimos ver isso em projetos de pesquisa, que já  entenderam que, para analisar determinadas populações ou trazer mais êxitos em seus resultados, é preciso fazer com que o público pesquisado se sinta parte daquele serviço. Quando a política pública entender que esse lugar é essencial para a execução de um ótimo trabalho, várias coisas mudarão e para melhor”.

Visões diversas e complementares

Mas quais os principais aspectos do trabalho dos EPs? Com a palavra, Thiago Oliveira , educador de pares do ImPrEP em Porto Alegre: “É por meio da educação de pares que relevantes informações referentes ao uso correto da PrEP, benefícios e possibilidades chegam ao usuário de forma acessível e natural. Ainda que unidades do SUS estejam repletas de servidores excepcionais em suas áreas, a linguagem biomédica e o próprio ambiente de uma unidade de saúde ou hospital é carregado de uma formalidade que nem sempre permite que o usuário expresse de forma espontânea as suas formas de lidar com a sexualidade e consiga esclarecer as suas dúvidas de maneira precisa”.

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Para Thiago, a atuação dos EPs, muitas vezes fora do "ambiente de saúde", porém munidos das boas práticas e conhecimentos sobre o tema, facilita e traduz os pontos realmente importantes em termos da prevenção combinada ao HIV.

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Fernanda Falcão, EP do ImPrEP em Recife, exemplifica: “Trazer o pajubá (forma de linguagem com os dialetos e gírias LGBT) para dentro do serviço é falar para quem está na ponta com uma linguagem a ser entendida, porque é a voz da comunidade. Nós, educadores e educadoras de pares falamos de forma clara e objetiva – e nos locais onde as pessoas estão –  sobre temas e estratégias que nos serviços, em razão da linguagem científica, nem sempre são compreensíveis. Nosso trabalho é fazer com que determinadas populações sejam compreendidas e incorporadas, tendo em vista as problemáticas e exclusões que sofrem historicamente”.

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EP do ImPrEP em Manaus, Gabriel Mota destaca: “Em projetos de pesquisa, a presença dos educadores e educadoras de pares se torna importante pois é por meio da nossa figura que conseguimos apresentar os projetos para as populações-alvo. Além de trabalhar as questões educativas envolvidas, conseguimos recrutar, vincular e reter os participantes nas unidades públicas de saúde. Sem os educadores de pares, o estudo ImPrEP, por exemplo, teria levado muito mais tempo para atingir seu objetivo de inclusão. A Fiocruz foi visionária em nos rastrear nas cidades onde o projeto está sendo desenvolvido.

Importante dizer que, além de nos rastrear, a instituição nos capacitou para lidar com o estudo, tanto no aspecto social quanto no aspecto técnico”.

E como esses/essas EPs, em poucas palavras, definiriam a educação de pares e a sua importância para a saúde no Brasil? 

 

Fernanda: “O educador de pares atua em prol do processo de aprendizagem. Educar é uma ação política. Nessa perspectiva, a sociedade necessita de uma educação problematizadora, baseada na criatividade e atitude, na qual educadores e educandos se percebam como seres históricos-sociais em permanente processo de construção”.

 

Caio: “A importância dxs EPs é criar uma articulação e formação entre pares para compreender o processo da pesquisa, suas ações dentro da totalidade dos cuidados e o uso da PrEP, bem como possibilitar por meio da escuta mais ampla um atendimento aos usuáries do centro de saúde”.

 

Ludymilla: “A educação de pares ultrapassa os conhecimentos adquiridos, pois em muitos momentos conseguimos entender a(o/e) usuária além da suas falas e comportamentos. E isso acontece por termos o mesmo lugar de origem e fazermos mais do que um simples atendimento, compreendendo fraquezas, dores e delícias de umdeterminado segmento populacional”.

 

Thiago: “O trabalho desenvolvido pelos EPs em cada um dos centros de estudo é a vitrine do ImPrEP, é a marca que o projeto deixa. Saliento a importância e a necessidade de que a educação comunitária focada nos pares seja ampliada e possa integrar a rede de cuidados do Sistema Único de Saúde”.


Gabriel: “A educação entre pares é o futuro da educação em saúde no Brasil e nós, do ImPrEP, somos pioneiros nessa função de maneira formal no país”. 

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