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Alessandra Ramos
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Kelly Vieira

ImPrEP e o desafio de aumentar a participação e a adesão de pessoas trans

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Sobre os motivos para a baixa participação da população trans no ImPrEP, Alessandra crê ter ligação com questões ligadas à vulnerabilidade: “Existe uma dificuldade dessas pessoas em pensar em saúde como algo que pertença a elas. Tem ainda uma questão importante de baixa autoestima. No entanto, devemos considerar também que o universo de gays e homens que fazem sexo com outros homens (HSH) é muito maior do que a população trans e, por isso, apresenta um número maior de participantes no estudo”. Para Kelly, existem fatores particulares que afetam essa participação. “Existem mulheres trans que negligenciam a questão da saúde. Outras acham que a utilização de preservativo é suficiente. De qualquer forma, não acho essa participação tão baixa assim. Sem uma política pública consistente, jamais teremos a participação ideal. Penso que hoje temos a participação possível”.

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Kelly cita a descrença na profilaxia como uma das principais dificuldades à adesão. “Claro que o desconhecimento é um fator importante, mas, em muitos casos, embora se sinta vulnerável, uma parcela considerável dessa população não confia no potencial de proteção da PrEP. Por isso, insisto ser urgente a criação de políticas públicas específicas”. Alessandra destaca outros pontos importantes: “Além da questão do pouco conhecimento, é preciso romper as barreiras do preconceito. Ainda existe um medo de possíveis efeitos colaterais e uma confusão grande entre PrEP e PEP (profilaxia pós-exposição)”.

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Estratégias para ultrapassar barreiras

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Com relação às estratégias utilizadas em projetos similares, no Brasil e no mundo, para estimular a participação e a adesão de pessoas trans, Kelly e Alessandra são categóricas ao afirmar que o ImPrEP é único. “Não há comparação entre o nosso projeto com nenhum outro. Ninguém estimula de forma tão organizada a participação e a adesão da população trans como o ImPrEP. E quero ressaltar o trabalho dos educadores e educadoras de pares, sem os quais não alcançaríamos resultados expressivos. Tenho muito orgulho do que faço”, afirma Kelly. Alessandra concorda: “No que diz respeito ao estímulo à participação e à adesão ao uso da PrEP, acertamos em cheio ao apostar na atuação dos EPs. Eles têm a devida autoridade para apresentar a profilaxia às populações-chave. Muito do sucesso do ImPrEP se deve a esses homens e mulheres. Sobre a educação de pares, sou suspeita para falar. É um trabalho fantástico”.

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Kelly afirma que para melhorar a aproximação da população trans aos serviços de saúde é necessário que essas pessoas também estejam atuando nesses serviços. “É importante que a gente tenha médicas, enfermeiras e outras profissionais de saúde trans. Nada pode ser mais gratificante do que observar que uma de nós conseguiu ultrapassar tantas barreiras”. Alessandra ressalta outros fatores: “É aconselhável criar ambientes favoráveis dentro dos serviços e uma prática contínua de estímulos e campanhas para que o acesso seja democratizado. Não é fácil para uma pessoa trans acessar esse tipo de serviço. Mesmo em unidades de referência, como é o caso da Fiocruz. Infelizmente, os casos de transfobia são ainda muito mais comuns do que se imagina.”

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Quanto ao acolhimento de pessoas trans, Alessandra afirma: “É uma prática fundamental. Todas as populações-chave do ImPrEP devem ser bem acolhidas, mas as mulheres trans devem, sim, ter uma atenção especial, pois são as mais estigmatizadas. Sem esse acolhimento fica muito difícil contar com a adesão ao projeto”. Kelly também destaca a questão do acolhimento e chama a atenção para a necessidade de valorizar o trabalho que vem sendo feito como um todo. “Claro que o acolhimento é importante, mas prefiro pensar que o nosso diferencial é o trabalho desenvolvido por toda a equipe. Talvez só o acolhimento não fosse suficiente para garantir a permanência da população trans no ImPrEP”.

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