Encontro atualiza informações sobre PrEP para adolescentes no Brasil e África do Sul
Dirceu Greco, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenador do PrEP 15-19 na capital mineira, lembrou o motivo do evento ser virtual. “A Covid-19 atingiu o mundo todo, especialmente o Brasil. São 156 mil mortos e cinco milhões de infectados. São várias crises: sanitária, econômica, ética, social”, disse ao abrir as discussões sobre as lições aprendidas durante a pandemia.
Tanto as iniciativas do Brasil como as da África do Sul tiveram que descentralizar pesquisas e adaptar serviços, usando telemedicina, consultórios móveis, entre outras ações. “Intensificamos o uso de plataformas on-line para ligar os participantes aos serviços, capacitamos nosso pessoal e entregamos a medicação em casa”, afirmou Saiqa Mulick, professora da Universidade de Witswatersrand .
No âmbito do Projeto PrEP 15-19, as medidas de prevenção ao novo coronavírus incluíram reformulação do chatbot criado pelo projeto (Amanda Selfie) para atuação no WhatsApp, consultas à distância e transporte via aplicativo para deslocamento de participantes. “Em março, decidimos manter as clínicas como serviço essencial na pandemia, já que os adolescentes não pararam de fazer sexo. Dessa forma, teleconsultas foram implementadas e vieram para ficar”, comentou a professora Inês Dourado, coordenadora do estudo em Salvador.
Por dentro do PrEP 15-19
Um dos destaques do evento foi o relato do projeto PrEP 15-19, pesquisa que avalia o uso da profilaxia entre jovens dessa faixa etária que se identificam como gays/outros homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis de Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. O estudo é realizado pela UFMG, USP e UFBA,com financiamento da Unitaid e Ministério da Saúde do Brasil.
Alexandre Grangeiro, pesquisador da Universidade de São Paulo e coordenador do PrEP 15-19 na capital paulista, descreveu o perfil dos jovens que se apresentam para o estudo no país: a maioria é do sexo masculino, cisgênero, pessoas negras e aquelas em maior vulnerabilidade social. Cerca de 42% dos jovens estão inseridos no mercado de trabalho.
A vulnerabilidade social e questões relacionadas ao cotidiano desses jovens têm se mostrado um fator importante para os casos de descontinuidade no uso da PrEP. “Muitos têm uma rotina que dificulta a permanência ou vinda aos serviços”, avalia Grangeiro. Por isso, acredita ser necessário testar técnicas para simplificar o uso da PrEP, como a entrega do medicamento descentralizada dos serviços de saúde, em locais mais próximos onde as pessoas moram.
Os jovens que se apresentam para o estudo também podem optar em não fazer o uso da profilaxia pré-exposição ao HIV. Independentemente da opção, todos são acolhidos e tratados em caso de algum diagnóstico de infecção sexualmente transmissível (IST). Dados de entrada e de acompanhamento do projeto mostram que a população do estudo tem risco acrescido de infecção pelo HIV e sífilis, especialmente. Além dos testes para diagnóstico de HIV (feitos no local ou com o autoteste) e outras ISTs, todos os participantes têm acesso à informação adequada, camisinha, lubrificante, aconselhamento e vacinação contra as hepatites A e B.
O ImPrEP também se fez presente no encontro, com uma breve apresentação feita pela coordenadora clínica do projeto, Brenda Hoagland, que ressaltou dados de PrEP relativos aos jovens participantes do estudo (18 a 24 anos), informações apresentadas pelo projeto na Aids 2020, conferência virtual realizada em julho nos EUA (para conhecer os dados do estudo acesse https://imprepconexao.wixsite.com/conexao3/4-1).
Já o Ministério da Saúde apresentou números gerais sobre o uso de PrEP no Brasil, que oferta o serviço de forma gratuita, via SUS, desde 2017 para adultos. Como a descontinuidade do tratamento é maior nas faixas de idade iniciais, há maior preocupação com o uso entre adolescentes.
“A adesão parece ter um componente de idade, com melhor adesão entre pessoas mais velhas. Por outro lado, na última pesquisa feita descobrimos que os jovens usavam muito mais preservativo do que os mais velhos, mas parece que agora os dados tendem a se igualar”, relata Ana Roberta Pascom, representante do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério.
Leia matéria completa sobre o encontro no site da Faculdade de Medicina da UFMG: https://www.medicina.ufmg.br/encontro-internacional-atualiza-pesquisas-sobre-prevencao-ao-hiv/