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Para celebrar o Dia Internacional da Visibilidade Trans (31/1), o ImPrEP CAB Brasil promoveu, em 26 de março de 2024, no seu canal no YouTube (https://www.youtube.com/@projetoimprepini-fiocruz6657), a live internacional “Visibilidade Trans na América Latina e Desafios da Prevenção”. 

 

O encontro debateu os avanços da população trans em termos de cidadania, direitos, promoção da saúde e prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, e contou com as presenças de Marcela Romero, da Rede Lac-Trans, da Argentina, Leyla Huerta, do Féminas, do Peru, e Keila Simpson, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, do Brasil, e também coordenadora comunitária do ImPrEP CAB Brasil. A moderação ficou a cargo de Julio Moreira, Luciana Kamel e da própria Keila, todos integrantes da educação comunitária do projeto.

 

A live começou com Marcela resumindo a situação da população trans na Argentina. “Nossa missão aqui é muito árdua. Ainda estamos trabalhando nos protocolos para que a profilaxia pré-exposição (PrEP) seja implementada, como já acontece em outros países do continente”. Julio pediu a palavra e observou a importância da profilaxia como ferramenta de prevenção ao HIV. Marcela prosseguiu: “A prevalência do vírus entre as pessoas trans em nosso país é de 35%, um índice elevado, próximo ao encontrado no continente africano. As maiores dificuldades que enfrentamos no dia a dia são a pobreza extrema, a falta de equipes de saúde qualificadas e a pior de todas: a discriminação”.

 

Leyla deu prosseguimento contando sobre seu trabalho e descrevendo a situação da comunidade trans no Peru: “Busco ferramentas para entender a realidade da nossa população. Já tivemos avanços importantes, como a disponibilização da PrEP e a possibilidade da mudança de nome nos documentos oficiais, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Infelizmente, existem grupos conservadores que querem retirar os poucos direitos que conquistamos”. E complementou: “Precisamos do apoio da sociedade civil, mas também queremos a ajuda do governo. Sem a elaboração de políticas públicas voltadas à nossa população, não alcançaremos a cidadania plena que tanto desejamos”.

 

A reunião teve prosseguimento com um relato de Keila. “A gente gostaria de falar de coisas boas, mas temos que falar das nossas mazelas. Marcela e Leyla são ativistas trans de dois países vizinhos e percebemos que ambas enfrentam os mesmos desafios que a comunidade trans brasileira. Fico com a impressão que para cada avanço conquistado surgem várias novas lacunas”. E concluiu: “O que nos dá esperança é a implementação de novas ferramentas de prevenção, como a PrEP, e a força do movimento LGBTI+. Já entendemos que se não nos unirmos, abriremos mão de lutar por direitos, cidadania e dignidade”.

 

Movimentos LGBTI+ e governos

 

Em seguida, foi a vez de Luciana perguntar sobre a situação do movimento trans na Argentina perante o novo governo, que tomou posse em dezembro do ano passado. Marcela comentou: “Estamos preocupadas, pois vão fazer de tudo para eliminar nossos direitos e acabar com os espaços que ocupamos. Não podemos condescender com um governo que fechou o Ministério da Diversidade, transformou o Ministério da Saúde em secretaria e já deixou claro que não vai elaborar nenhuma política pública voltada à população LGBTI+. Até a linguagem neutra foi proibida nas escolas. Sem os programas de inclusão, que serão cortados, voltaremos a ser invisíveis para o restante da sociedade”.

 

Leyla também opinou sobre o assunto: “Infelizmente, governos conservadores e autoritários são comuns em nosso continente. Aqui no Peru também já passamos por isso. Quando acontece, é necessário redobrar o poder de mobilização e ter muita resiliência. É um ciclo doloroso, mas que em algum momento chega ao fim”. Keila observou: “Saímos recentemente de um período de retrocessos no Brasil. Era um sentimento de terra arrasada, um tempo de muita dor e desesperança. Não dá para dizer que viramos completamente essa página, mas agora temos novamente espaço para defender pautas inclusivas e lutar por nossos direitos”.

 

Para encerrar, Julio pediu uma última palavra a Leyla e Marcela. A ativista peruana foi a primeira a falar: “Precisamos fazer uma mea culpa e descobrir porque temos tanta dificuldade em potencializar o nosso trabalho. É urgente praticar um ativismo social forte e transitar em todos os espaços públicos. A ajuda dos governos é indispensável, mas não podemos cruzar os braços sempre que esse auxílio não vier. Hoje, estou convencida que a sociedade civil tem uma importância central para as pautas da nossa comunidade. Se a gente não fizer barulho, nunca deixarão de enxergar nossos corpos como sinônimos de sexo e HIV”.

 

Marcela finalizou o encontro: “Para nós, argentinos, que passamos por um momento tão difícil, encontros como este têm uma simbologia muito grande. Perceber que temos tantas pautas em comum enche o coração de uma esperança que parecia perdida. A mensagem que deixo para todas as companheiras que estão nos vendo é que não desistam da luta. Cada pequena conquista rumo à nossa dignidade é a certeza de estar do lado certo da história. Essa caminhada me ensinou que se juntas somos fortes, separadas seremos invisíveis para sempre”.

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